terça-feira, 27 de março de 2012

Heráclito e devir – e sua aplicação na filosofia de Platão e Aristóteles


Na obra Da natureza (primeira obra pré-socrática a chegar aos dias atuais), Heráclito reflete sobre a existência do mundo e o sentido da vida humana. Para ele “a guerra (polemos) é a origem (o “pai”) de tudo: o conflito de forças contrárias seria o estado natural do mundo” (ABRÃO, 2008. P.21), formando forças que atuam em sentidos opostos, que as mantêm unidas, como um arco: a corda tenciona o arco equilibrando o mundo e gerando uma harmonia entre as oposições contrárias.
“É a tensão que além de criar a harmonia do mundo, é responsável por sua transformação.”
“O mundo está em constante mutação, flui como a água de um rio, em movimento eterno, sem ter sido criado por deuses ou por homens. O mundo não é somente o real, a supostas coisas imóveis ou fixas, os acontecimentos já determinados; o mundo é também o possível, e essa possibilidade está presente no jogo dos opostos” (ABRÃO, 2008. P.21).
Heráclito mostra também que “tudo é um” e esse “um” muda continuamente.
“Heráclito diz (...) que tudo se move e nada está parado e, comparando as coisas existentes com a corrente de um rio, diz que não poderíamos mergulhar duas vezes no mesmo rio” (RAVEM, SCHOFIELD, apud ABRÃO, 2008. P.21).
Encontramos em Chaui:
“O mundo, dizia Heráclito, é um fluxo perpétuo, onde nada permanece idêntico a si mesmo, mas tudo se transforma em seu contrário. A luta é a harmonia dos contrários, responsável pela ordem racional do universo. /.../ Assim Heráclito afirmava que a verdade e o logos são a mudança das coisas nos seus contrários.”(CHAUI, 1995. P. 180).
É óbvio que aqui junto com Heráclito, entra a figura de Parmênides, mas não falarei dele, pois não é o objetivo desta postagem, portanto citarei apenas o necessário.
Pois é com devir e o entendimento de Heráclito - “a contradição e a lei racional da verdade” - e de Parmênidas - “a identidade é essa lei racional”. E é com isso que surge a dialética em Platão; que afirmava: Heráclito tem razão no que se refere ao mundo real ou físico, pois a matéria é que está sujeita a mudanças contínuas e oposições internas (Heráclito estava certo ao mundo de nossas sensações, percepções e opiniões – o que Platão chama de mundo sensível).
Em que o próprio Platão classificava de mundo das aparências (prisioneiro da caverna – cópia ou sombra do mundo verdadeiro e real). Aqui é Parmênides que tem razão: o mundo verdadeiro é o das essências imutáveis (que Platão chama de mundo inteligível), sem contradições e nem oposições, sem transformações onde nenhum ser passa para seu contrário.
Definindo assim a dialética de Platão, a passagem da imagem contraditória, a conceitos idêntico para todos os pensantes, isso ocorre quando se divide os contrários até que se chegue a um termo indivisível, sem contradição ou oposição. O termo será a idéia ou a essência da coisa investigada, exemplo facilmente percebível nos diálogos de Platão, nas investigações de Sócrates.
Já o devir também aparece para Aristóteles, de forma crítica à Platão, para ele é desnecessário separar a realidade em dois mundos diferentes, havendo apenas um, o qual existe essência e aparência, isto é, seres cuja essência é mudar e seres cuja essência é imutável, o erro de Heráclito foi supor que a mudança de realizar da forma da contradição e sim na identidade que o pensamento pode conhecer. Aristóteles afirma:
“Parmênides tem razão: O pensamento e a linguagem exigem a identidade”.
“Heráclito tem razão: as coisas mudam”.
Ambos enganam-se ao supor que identidade e mudanças são contraditórias, tal engano levou Platão à desnecessária divisão de mundos.
Sendo assim Aristóteles substituiu a dialética de Platão, por um conjunto de procedimentos de demonstração e prova – criando assim a lógica propriamente dita, ou a sua analítica.

Referências Bibiográficas:
ABRÃO. B. S, Enciclopédia do estudante: história da filosofia: da antiguidade aos pensadores do século XXI. São Paulo: ed. Moderna, 2008.
CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 1995.

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