quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

ATOMISMO


Abbagnano apresenta a compreensão da palavra atomismo por três doutrinas diversas com finalidade distintas:
1ª O atomismo filosófico ou naturalismo atomista.
2ª Referente à teoria atômica.
3ª A concepção atomista da realidade psíquica ou social ou da linguagem.
A doutrina que nos interessa neste momento é a primeira doutrina, o atomismo filosófico ou naturalismo atomista que teve origem com o filósofo Leucipo de Mileto (450 – 370 a.C.) seguidor de Parmênides e de Zenão de Eléia, do qual tirou os princípios para criar o seu sistema atomista. Teve como seguidor seu aluno Demócrito de Abdera (460 – 370 a.C.), que acrescentou ao sistema atomista um entendimento entre o movimento de Heráclito, a unidade e a imutabilidade apresentada e defendida por Parmênides.
Mas, para entender melhor o atomismo, precisamos retomar a ontologia de Parmênides e entender a sua afirmação:

“O ser é, o não-ser não é”.

Opondo-se assim a ideia de que as coisas existentes originam-se do nada e nem poderiam transformar-se em nada, isto é, tudo que existe sempre existiu e sempre existirá, assim, possibilita a afirmação que o ser é o que é, não podendo se transformar em nada e nem no não-ser, pois o não-ser, não é o que ele não é.
Assim Parmênides apresenta um mundo estático, onde tudo já está dado e não há mudança, e o que não existe não pode vir a ser. Seguindo este pensamento, Parmênides afirmava que nada se transforma, caracterizando o mundo como imutável e as mudanças que acontecem ao nosso redor não passam de ilusão causada pelos nossos sentidos, que fazem parecer que há mudanças no mundo.
Mas não podemos esquecer que estamos no período pré-socrático, que não só se encontram os cosmólogos, que deram origem a filosofia ocidental, mas tinham em si a principal característica não só para a filosofia, mas para tudo que envolve a criação. Eles possuíam a inquietude, característica que fez da filosofia, as filosofias, criadas incessantemente, característica que, por muitas vezes, nos falta. Agora se nesta época era difícil para os filósofos gregos negarem que algo pudesse se originar do nada, uma vez que eles procuravam o elemento primordial, ou transformar-se em nada, mas não poderíamos esperar que eles aceitassem que as coisas que existem no mundo sejam imutáveis, isso seria pedir demais.
Muitos filósofos desenvolveram sua filosofia tentando validar o pensamento de Parmênides, afirmando assim, que o movimento não passa de ilusão. Como é o caso de Zenão de Eléia, que radicaliza a posição do Parmênides com suas aporias, o que levou Aristóteles afirmar que foi ele o criador da dialética. E muitos outros filósofos como Empédocles e Anaxágoras desenvolveram sua filosofia para tentar resolver a presença das coisas que mudam de forma, sem abandonar os princípios que as compõe, que são: fixas, incriáveis, incorruptíveis e imutáveis, e aqui é que o sistema atomista se destaca.
Partindo do pensamento que se pegar qualquer pedaço de matéria e ir dividindo-a em partes cada vez menores irá chegar a uma partícula mínima, elementar e indivisível. E essa partícula indivisível que compõe a matéria foi denominada de átomo. Essas partículas são eternas e imutáveis e a união delas, que ocorre de diversas formas e maneiras diferentes, é que dará origem a todas as coisas que existem. Essas mesmas partículas tem também a capacidade de desunir, característica que possibilita a mudanças e os tipos de formas e matérias existentes. Desta forma as coisas não surgiriam do nada e os filósofos conseguiriam assegurar que as coisas que vemos e suas mudanças são provocadas pela união e desunião destas partículas.
Outras contribuições para a concepção atomista vêm do filosofo Empédocles (495 – 435 a.C.) que defendia que o universo era formado pelos quatro elementos básicos o fogo, a terra, a água e o ar, sendo ordenado por duas forças: o amor, que reunia os elementos, e o ódio, que os separavam; de Anaxágoras (500 – 428 a.C.) que, ao contrário de Empédocles, que defendia apenas a existência de quatro elementos(também chamados de raízes), acreditava que existiam um sem-número de elementos, os quais estão presentes em tudo que existe, em menor ou em maior quantidade, para ele, antes de existir o movimento, todos os elementos estavam juntos, unidos como um caos, sem forma alguma e que fora separado em formas distintas, dando assim, origem ao movimento, pela força do nous – espirito ou inteligência – sendo a origem não só do movimento, mas da pluralidade de tudo que existe.
Assim, Leucipo e Demócrito não abrem mão do elemento eterno e imutável proposto na filosofia de Parmênides e de Zenão, presente na concepção do átomo, mas para que os átomos não passem de um único bloco de matéria maciça, foi necessária a concepção do vazio, espaço onde os átomos pudessem se movimentar, unindo-se e desunindo-se, gerando assim o as mudanças neste mundo. Para Leucipo e Demócrito, este vazio é o não-ser, fazendo assim o não-ser existir, opondo-se a Parmênides e a Zenão, pelos quais o não-ser era concebido como nada.
A importância do vazio é primordial para o atomismo, pois é nele que os átomos se movem, promovendo que eles se choquem entre si, e assim se agrupando e produzindo diversas combinações, pois para os atomistas, existiam átomos de diversas formas, tamanhos, posições, aspectos e suas atribuições dadas pela união dos mesmos, resultando na pluralidade das coisas que existem no mundo que está em movimento.
Dentro da própria Grécia, podemos identificar uma defesa do atomismo feita pelo Aristóteles, mas é com Epicuro que surge, na concepção do atomismo, um desvio indeterminado e imprevisível que tiraria o átomo da queda livre, movimento linear realizado pelo mesmo, tal desvio é denominado de clinamen, nome dado por Lucrécio, seguidor romano do epicurismo. Tal concepção – dada no epicurismo – foi a base teórica da tese de doutorado de Karl Marx. Podemos citar que a concepção atomista volta forte com a noção do vácuo da Lua apresentado por Galileu Galilei, mas foi com o físico e químico inglês John Dalton, que realizou grandes interferências na concepção de Leucipo e de Demócrito. Não podemos deixar de mencionar a concepção atomista apresentada por Bertrand Russell e de seu aluno Ludwig Wittgenstein, além de tanto outros filósofos.


Fontes:

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
ABRÃO, B. S. História da Filosofia. São Paulo: Nova cultural, 2004.
ABRÃO, B. S. História da Filosofia Da Antiquidade aos pensadores do século XXI. São Paulo: editora Moderna, 2008.
FILOSOFIA CIÊNCIA & VIDA: revista especial de filosofia. São Paulo: ed. Escala n. 2, ano I. 82 p.

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