Abbagnano
apresenta a compreensão da palavra atomismo por três doutrinas diversas com
finalidade distintas:
1ª O atomismo filosófico ou naturalismo atomista.
2ª Referente à teoria atômica.
3ª A concepção atomista da realidade psíquica ou social ou
da linguagem.
A
doutrina que nos interessa neste momento é a primeira doutrina, o atomismo
filosófico ou naturalismo atomista que teve origem com o filósofo Leucipo de
Mileto (450 – 370 a.C.) seguidor de Parmênides e de Zenão de Eléia, do qual tirou
os princípios para criar o seu sistema atomista.
Teve como seguidor seu aluno Demócrito de Abdera (460 – 370 a.C.), que acrescentou
ao sistema atomista um entendimento entre o movimento de Heráclito, a unidade e
a imutabilidade apresentada e defendida por Parmênides.
Mas,
para entender melhor o atomismo, precisamos retomar a ontologia de Parmênides e
entender a sua afirmação:
“O ser é, o não-ser
não é”.
Opondo-se
assim a ideia de que as coisas existentes originam-se do nada e nem poderiam
transformar-se em nada, isto é, tudo que existe sempre existiu e sempre
existirá, assim, possibilita a afirmação que o ser é o que é, não podendo se transformar em nada e nem no não-ser, pois o não-ser, não é o que ele não é.
Assim
Parmênides apresenta um mundo estático, onde tudo já está dado e não há
mudança, e o que não existe não pode vir a ser. Seguindo este pensamento,
Parmênides afirmava que nada se transforma, caracterizando o mundo como
imutável e as mudanças que acontecem ao nosso redor não passam de ilusão causada
pelos nossos sentidos, que fazem parecer que há mudanças no mundo.
Mas
não podemos esquecer que estamos no período pré-socrático, que não só se
encontram os cosmólogos, que deram origem a filosofia ocidental, mas tinham em
si a principal característica não só para a filosofia, mas para tudo que
envolve a criação. Eles possuíam a inquietude, característica que fez da
filosofia, as filosofias, criadas incessantemente, característica que, por
muitas vezes, nos falta. Agora se nesta época era difícil para os filósofos
gregos negarem que algo pudesse se originar do nada, uma vez que eles
procuravam o elemento primordial, ou transformar-se em nada, mas não poderíamos
esperar que eles aceitassem que as coisas que existem no mundo sejam imutáveis,
isso seria pedir demais.
Muitos
filósofos desenvolveram sua filosofia tentando validar o pensamento de Parmênides,
afirmando assim, que o movimento não passa de ilusão. Como é o caso de Zenão de
Eléia, que radicaliza a posição do Parmênides com suas aporias, o que levou Aristóteles
afirmar que foi ele o criador da dialética. E muitos outros filósofos como Empédocles
e Anaxágoras desenvolveram sua filosofia para tentar resolver a presença das
coisas que mudam de forma, sem abandonar os princípios que as compõe, que são:
fixas, incriáveis, incorruptíveis e imutáveis, e aqui é que o sistema atomista
se destaca.
Partindo
do pensamento que se pegar qualquer pedaço de matéria e ir dividindo-a em
partes cada vez menores irá chegar a uma partícula mínima, elementar e indivisível.
E essa partícula indivisível que compõe a matéria foi denominada de átomo.
Essas partículas são eternas e imutáveis e a união delas, que ocorre de
diversas formas e maneiras diferentes, é que dará origem a todas as coisas que
existem. Essas mesmas partículas tem também a capacidade de desunir,
característica que possibilita a mudanças e os tipos de formas e matérias
existentes. Desta forma as coisas não surgiriam do nada e os filósofos
conseguiriam assegurar que as coisas que vemos e suas mudanças são provocadas
pela união e desunião destas partículas.
Outras
contribuições para a concepção atomista vêm do filosofo Empédocles (495 – 435
a.C.) que defendia que o universo era formado pelos quatro elementos básicos o
fogo, a terra, a água e o ar, sendo ordenado por duas forças: o amor, que
reunia os elementos, e o ódio, que os separavam; de Anaxágoras (500 – 428 a.C.)
que, ao contrário de Empédocles, que defendia apenas a existência de quatro
elementos(também chamados de raízes), acreditava que existiam um sem-número de
elementos, os quais estão presentes em tudo que existe, em menor ou em maior
quantidade, para ele, antes de existir o movimento, todos os elementos estavam
juntos, unidos como um caos, sem forma alguma e que fora separado em formas
distintas, dando assim, origem ao movimento, pela força do nous – espirito ou inteligência – sendo a origem não só do
movimento, mas da pluralidade de tudo que existe.
Assim,
Leucipo e Demócrito não abrem mão do elemento eterno e imutável proposto na
filosofia de Parmênides e de Zenão, presente na concepção do átomo, mas para
que os átomos não passem de um único bloco de matéria maciça, foi necessária a
concepção do vazio, espaço onde os átomos pudessem se movimentar, unindo-se e
desunindo-se, gerando assim o as mudanças neste mundo. Para Leucipo e Demócrito,
este vazio é o não-ser, fazendo assim o não-ser existir, opondo-se a Parmênides
e a Zenão, pelos quais o não-ser era concebido como nada.
A
importância do vazio é primordial para o atomismo, pois é nele que os átomos se
movem, promovendo que eles se choquem entre si, e assim se agrupando e
produzindo diversas combinações, pois para os atomistas, existiam átomos de
diversas formas, tamanhos, posições, aspectos e suas atribuições dadas pela
união dos mesmos, resultando na pluralidade das coisas que existem no mundo que
está em movimento.
Dentro
da própria Grécia, podemos identificar uma defesa do atomismo feita pelo Aristóteles,
mas é com Epicuro que surge, na concepção do atomismo, um desvio indeterminado
e imprevisível que tiraria o átomo da queda livre, movimento linear realizado
pelo mesmo, tal desvio é denominado de clinamen, nome dado por Lucrécio,
seguidor romano do epicurismo. Tal concepção – dada no epicurismo – foi a base
teórica da tese de doutorado de Karl Marx. Podemos citar que a concepção
atomista volta forte com a noção do vácuo da Lua apresentado por Galileu
Galilei, mas foi com o físico e químico inglês John Dalton, que realizou
grandes interferências na concepção de Leucipo e de Demócrito. Não podemos
deixar de mencionar a concepção atomista apresentada por Bertrand Russell e de
seu aluno Ludwig Wittgenstein, além de tanto outros filósofos.
Fontes:
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo:
Martins Fontes, 2007.
ABRÃO, B. S. História da Filosofia. São Paulo: Nova cultural, 2004.
ABRÃO, B. S. História da Filosofia Da Antiquidade aos pensadores do século XXI.
São Paulo: editora Moderna, 2008.
FILOSOFIA CIÊNCIA & VIDA:
revista especial de filosofia. São Paulo: ed. Escala n. 2, ano I. 82 p.
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