Agostinho de Hipona (354-430), filho de mãe cristã e pai pagão, nasceu
em Numídia, província imperial na África, iniciando em filosofia após ler a
obra Hortencius de Cícero e se
entrega a filosofia dos antigos. Em 373 encontrou-se com o maniqueísmo – é a polaridade cósmica entre o bem e o mal, ambos
compreendidos como princípios cósmicos e eternos que se fazem presentes nos
diversos seres do universo e que estão em constante luta um contra o outro – o
qual permanece vinculado por dez anos, convertendo-se ao cristianismo só mais
tarde, em 386. Mesmo assim não abandona os seus estudos dos antigos, passa
então a tomar de empréstimos pontos que coincidem com as verdades cristãs,
integrando desta forma elementos da cultura antiga a sabedoria cristã uma vez
que as duas parecem compatíveis na própria escritura.
A criação para Agostinho foi
instantânea e total, assim ele coloca o relato bíblico da criação em seis dias
como uma alegoria, opondo-se ao aristotelismo árabe e latino. Para ele a
criação se estende no tempo que é conservado por Deus, assim os seres
individuais surgem de acordo com o seu momento de maturação e nascimento
(razões seminais ou germe), de acordo com a ordem disposta pela providencia
divina. Uma vez que Deus insere uma cópia de sua ideia, ou verbo, na matéria,
ele teve antes de fazer a própria matéria, contrariando assim a concepção
platônica, que acreditava que a produção do mundo era um processo necessário e
inevitável. Para Agostinho, a criação é uma decisão livre e voluntária, um ato
espontâneo da livre vontade e do amor divino. E é importante dizer que
Agostinho segue o pensamento do neoplatonismo surgido no século II.
É importante
ressaltar que, para Agostinho, o tempo foi criado junto com o mundo, portanto a
criação não é eterna e sim instantânea, como já vimos. Assim podemos dizer que
o mundo não foi feito no tempo, mas com o tempo, portanto o tempo também nasce como
criatura, o que permite a Agostinho reconhecer a existência fora do tempo dos
anjos.
O problema do mal é uma das questões
fundamentais da filosofia de Agostinho, ele levanta a seguinte questão: A
criação é boa por receber aquilo que é próprio do Criador que é Deus. Por que então
existe o mal? Agostinho responde:
O mal físico provem da matéria que
constitui a criatura e é limitada por ser finita, portanto o mal não provem de
Deus. Não é outra coisa se não o não ser, sendo o mal, a privação do ser, - o
não ser – e, verdadeiramente, não existe.
Já o mal mora, isto é, causado pelo homem,
não é se não consequência da falha de Adão, pela qual o pecado entrou no mundo e
a natureza humana perdeu seu estado originário. Remontando assim a liberdade de
escolha do homem, no livre arbítrio que Deus lhe deu e que lhe permite “ser
capaz de pecar e não pecar”.
A obra mais conhecida de
Agostinho é: A cidade de Deus. Esta
obra foi o que configurou toda a Idade Média, na qual ele apresenta dois
mundos, o de Deus e o do império romano (dos homens) e com a morte dos santos
na cidade terrena, assim constituindo uma igreja invisível que não pode ser
confundida com a igreja exterior e visível. Embora colaborasse com a manutenção
do império, não fazia parte dele, seu amor era destinado a Deus. Essa igreja
invisível era composta por peregrinos na terra, encaminhados a um fim
transcendente e a uma recompensa eterna. Há também os da linhagem de Caim, que
puseram seu amor em si mesmo, na cidade terrena e em valores mundanos. É nessa
obra que Agostinho apresenta a sua visão referente a história, que é linear e
progressiva, dividida em seis idades e tende a um fim último.
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