terça-feira, 27 de março de 2012

O cogito de Descartes



“Decidi fazer de conta que todas as coisas que até então haviam entrado no meu espírito não eram mais corretas do que as ilusões de meus sonhos. Porém, logo em seguida, percebi que, ao mesmo tempo que eu queria pensar que tudo era falso, fazia-se necessário que eu, que pensava fosse alguma coisa. E ao notar que essa verdade: ‘eu penso, logo existo’, era tão sólida e tão correta que as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de lhe causar abalo, julguei que poderia considerá-la, sem escrúpulo algum, o primeiro princípio da filosofia que eu procurava /.../ compreendi, então, que eu era uma substância cuja a essência ou a natureza consiste apenas no pensar, e que,  para ser, não necessita de lugar algum, nem depende de qualquer coisa material. De maneira que esse eu, ou seja, a alma, Por causa da qual sou o que sou, é completamente distinta do corpo e, mesmo que esse nada fosse, ela não deixaria de ser tudo que é” (DESCARTES, 1999. p. 62)

Começar dizendo que o cogito é um ato intuitivo de apreensão de uma verdade, pode parecer começar pelo meio, pois foi através dele, Penso, logo existo que Descartes consegue provar o poder da razão, gerando assim, três verdades inatas: Eu sou eu existo; eu sou um ser pensante; As coisas do espírito são mais fáceis de conhecer. Mas para ele chegar a esse pensamento ele teve que levar até o limite o questionamento cético da capacidade humana de conhecer com certeza. Levando todo o conhecimento a dúvida desenvolve uma investigação que seja metódica, estratégica, provisória e radical, escapando da dúvida uma verdade evidente e clara, a verdade necessária da própria existência do sujeito, sendo: penso, logo existo, uma verdade segura, sendo ela a primeira verdade.
Este ser pensante foi colocado em um sujeito, por Deus, que para Descartes foi considerado um ser de natureza perfeita, e possuidor de todas as perfeições, essa presença de Deus em seu cogito, possibilita que Descartes resolva um grande impasse em sua teoria, que sem a existência de uma entidade transcendente criadora do eu, nada impediria a afirmação que esse eu, estava fadado a uma realidade unicamente dele, sem convívio, existente apenas em seu pensamento. Perceba como Deus serve de avalista a teoria do cogito.
Assim, Descartes tira o conhecimento de uma ontologia e passa para epistemologia, uma vez que ele substitui da filosofia a explicação do mundo sobre a pergunta: do que existe? Dominante no pensamento filosófico antigo e medieval, pelo conhecimento do sujeito, o eu. A pergunta deixa de ser: O que existe? E passa a ser: Como conhecemos o que existe? Podemos chegar a conhecê-lo? Inaugurando, por assim dizer, um mundo no qual seria governado pela razão, colocando o homem não só no centro das especulações filosóficas, mas o eu torna-se o centro e a certeza da realidade existente.
Desta forma podemos afirmar que a verdade não é alguma coisa encontrada fora do pensamento, mas algo intrínseco, interno ao próprio pensamento, produzido pelo próprio pensamento. Uma vez que o conteúdo do pensamento não é a realidade em si, algo que está fora do eu, mas sim, a representação que se forma dentro do eu. Transformando assim a realidade como uma formação do pensamento, sendo ele a certeza e indubitável. Pois para Descartes a evidência, clara e inegável levou a afirmar que a base de tudo que existe está no eu pensante, e que o pensamento torna-se a essência da realidade a partir do qual se constrói o resto.


Referências bibliográficas


ABRÃO, B. S. Enciclopédia do estudante: História da filosofia. São Paulo: ed. Moderna, 2008. vol. 12.

ABRÃO, B. S. História da filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 2004.

DESCARTES, R. Discurso do método. In. DESCARTES, Os Pensadores - Descartes. São Paulo: Nova Cultural, 1999. pp. 34 - 100.

SEMERARO, G. Saber fazer filosofia – O Pensamento Moderno. Aparecida: Ideias & Letras, 2011

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