“Decidi
fazer de conta que todas as coisas que até então haviam entrado no meu espírito
não eram mais corretas do que as ilusões de meus sonhos. Porém, logo em
seguida, percebi que, ao mesmo tempo que eu queria pensar que tudo era falso,
fazia-se necessário que eu, que pensava fosse alguma coisa. E ao notar que essa
verdade: ‘eu penso, logo existo’, era tão sólida e tão correta que as mais
extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de lhe causar abalo,
julguei que poderia considerá-la, sem escrúpulo algum, o primeiro princípio da
filosofia que eu procurava /.../ compreendi, então, que eu era uma substância
cuja a essência ou a natureza consiste apenas no pensar, e que, para ser, não necessita de lugar algum, nem
depende de qualquer coisa material. De maneira que esse eu, ou seja, a alma,
Por causa da qual sou o que sou, é completamente distinta do corpo e, mesmo que
esse nada fosse, ela não deixaria de ser tudo que é” (DESCARTES, 1999. p. 62)
Começar
dizendo que o cogito é um ato
intuitivo de apreensão de uma verdade, pode parecer começar pelo meio, pois foi
através dele, Penso, logo existo que
Descartes consegue provar o poder da razão, gerando assim, três verdades
inatas: Eu sou eu existo; eu sou um ser
pensante; As coisas do espírito são mais fáceis de conhecer. Mas para ele
chegar a esse pensamento ele teve que levar até o limite o questionamento
cético da capacidade humana de conhecer com certeza. Levando todo o
conhecimento a dúvida desenvolve uma investigação que seja metódica,
estratégica, provisória e radical, escapando da dúvida uma verdade evidente e
clara, a verdade necessária da própria existência do sujeito, sendo: penso, logo existo, uma verdade segura,
sendo ela a primeira verdade.
Este
ser pensante foi colocado em um
sujeito, por Deus, que para Descartes foi considerado um ser de natureza
perfeita, e possuidor de todas as perfeições, essa presença de Deus em seu
cogito, possibilita que Descartes resolva um grande impasse em sua teoria, que
sem a existência de uma entidade transcendente criadora do eu, nada impediria a afirmação que esse eu, estava fadado a uma realidade unicamente dele, sem convívio,
existente apenas em seu pensamento. Perceba como Deus serve de avalista a
teoria do cogito.
Assim,
Descartes tira o conhecimento de uma ontologia e passa para epistemologia, uma
vez que ele substitui da filosofia a explicação do mundo sobre a pergunta: do que existe? Dominante no pensamento
filosófico antigo e medieval, pelo conhecimento do sujeito, o eu. A pergunta deixa de ser: O que existe? E passa a ser: Como conhecemos o que existe? Podemos chegar a conhecê-lo?
Inaugurando, por assim dizer, um mundo no qual seria governado pela razão,
colocando o homem não só no centro das especulações filosóficas, mas o eu torna-se o centro e a certeza da
realidade existente.
Desta
forma podemos afirmar que a verdade não é alguma coisa encontrada fora do pensamento, mas algo intrínseco, interno ao próprio pensamento, produzido pelo próprio pensamento. Uma
vez que o conteúdo do pensamento não é a realidade em si, algo que está fora do
eu, mas sim, a representação que se
forma dentro do eu. Transformando
assim a realidade como uma formação do pensamento, sendo ele a certeza e
indubitável. Pois para Descartes a evidência, clara e inegável levou a afirmar
que a base de tudo que existe está no eu
pensante, e que o pensamento torna-se a essência da realidade a partir do
qual se constrói o resto.
Referências
bibliográficas
ABRÃO,
B. S. Enciclopédia do estudante: História
da filosofia. São Paulo: ed. Moderna, 2008. vol. 12.
ABRÃO,
B. S. História da filosofia. São
Paulo: Nova Cultural, 2004.
DESCARTES, R.
Discurso do método. In. DESCARTES, Os Pensadores - Descartes. São Paulo: Nova
Cultural, 1999. pp. 34 - 100.
SEMERARO,
G. Saber fazer filosofia – O Pensamento
Moderno. Aparecida: Ideias & Letras, 2011
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